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A pintura sempre foi uma fonte de expressão e comunicação desde os primórdios da humanidade. Hoje em dia, peças de arte que moldaram um certo período da história são as mesmas que influenciam os artistas de hoje nas suas mais diversas criações.
A premissa para estas séries é simples: convidamos artistas que usam a pintura como uma forma de expressão e desafiamos a escolher uma pintura que os influencia e explicar o porque de a terem escolhido. Após a análise da pintura à sua escolha, cada episódio segue a jornada pelos seus processos artísticos.
O que fez os artistas escolher este caminho? Estudaram pintura ou aprenderam sozinhos? Como é o processo de pintura? Onde encontram inspiração? A primeira temporada de Empire of Light junta uma série de artistas da área local do Canal180, Porto Portugal, apresentando os artistas Vera Matias, Matías Romano Alemán, João Puig, and Teresa Arega.
TERESA AREGA
Edrita Fried por Joan Mitchell
Edrita Fried por Joan Mitchell
Edrita Fried é um óleo sobre tela expressionista abstrato criado pelo americano Joan Mitchell em 1981. Mitchell começou a desenhar de forma livre e impulsiva com um pincél por volta de 1951 e ela "nunca foi uma seguidora". O principal meio de Joan Mitchell era a pintura a óleo sobre tela, embora ela também criasse desenhos e gravuras. Ao longo de quase cinco décadas, ela estabeleceu um vocabulário visual singular enraizado na abstração gestual. Na universidade, Teresa Arega passava por um período complexo, questionando o verdadeiro impacto da pintura sobre as pessoas em comparação com outras formas de arte... até encontrar o trabalho de Joan, que a fez acreditar novamente no poder da pintura.
photo por José Guilherme Marques
Quando Teresa era pequena ela queria ser tudo. Ao crescer, encontrou o seu caminho para os pincéis e tintas de uma forma muito natural, até que decidiu estudar pintura na Faculdade de Belas Artes do Porto. O seu processo artístico começa com uma questão e é na busca de respostas, no pensamento por trás disso e na liberdade que ela tem para fazê-lo, que Teresa encontra o caminho para construir seus projetos. O trabalho artístico de Teresa Arega vai além da pintura, e para além da tela; ela também trabalha com diários gráficos, arquivos, poesia e escrita - ou o que quer que tenha à mão, como diz. Para completar o seu corpo de trabalho, Teresa criou Varicela, um podcast (em português) sobre criatividade, focado em compartilhar a realidade por trás da criação e os altos e baixos da vida como artista.
“
Gosto de formular um projeto do início. Normalmente começa com uma intenção, com uma questão, e eu procuro pela resposta. Nem sempre a encontro e não me importa muito, porque o que importa é o processo que me faz pensar na questão.
”
— Teresa Arega
JOÃO PUIG
Soir Bleu por Edward Hopper
Soir Bleu by Edward Hopper
Edward Hopper pintou Soir Bleu na sua terceira viagem a Paris, in 1914, ainda no início de sua carreira, quando Hopper só tinha pintado nus e autorretratos em pequeno formato. Soir Bleu é uma das pinturas mais aclamadas e peculiares do artista, devido ao retrato de personagens percebidos como forasteiros. Puig escolheu esta pintura porque a vê como uma fase de tensão para o pintor Edward Hopper, na qual o artista traz referências e manifestações de acordo com o que sentiu naquele momento. Em Soir Bleu, essa tensão é sentida através do contexto e dos personagens retratados na pintura: à esquerda, um homem da classe trabalhadora fumando um cigarro; no centro, outro fumante, com aparência de pintor, um oficial militar, um palhaço bastante sinistro, e uma prostituta de pé; e na extrema direita, um casal burguês.
Shot by Bauti Godoy
João Puig é um pintor de 26 anos nascido em Viana do Castelo e situado no Porto. Puig iniciou-se na pintura aos 16 anos de idade, durante a escola, mas foi mais tarde que desenvolveu a sua técnica, de forma autodidacta, até entrar no Mestrado de Belas Artes da Universidade do Porto. Seu trabalho artístico é baseado no aspeto figurativo, embora com um certo realismo e foco em narrativas biográficas e narrativas, onde ele pode refletir sobre sua própria realidade e a conexão que traz quando você abre um diálogo.
“
Quando estudamos artes, tentamos sempre desenhar a melhor peça, a peça mais realista, e acho que segui esse caminho inocentemente durante um tempo durante a minha fase autodidata.
”
— João Puig
MATÍAS ROMANO ALEMÁN
Children's Games por Pieter Bruegel the Elder
Children's Games por Pieter Bruegel the Elder
Children's Games é uma pintura a óleo do artista Pieter Bruegel, o Velho. Pintada em 1560, a pintura retrata crianças que variam de idade, desde bebés até adolescentes parecendo adultos em miniatura a brincar. Matías escolheu esta pintura por causa da semelhança com suas abordagens artísticas, como a presença de jogos e a combinação de várias cenas diferentes num único momento através de uma perspetiva invisível. Ao mesmo tempo, Matías aponta o cenário quase utópico em que as crianças tomam conta de uma cidade com o único propósito de brincar.
photo by José Guilherme Marques
Matías Romano Aleman nasceu nos subúrbios de Buenos Aires, Argentina e agora vive no Porto. Matías mudou-se para Portugal um mês antes da pandemia e como muitos começou a trabalhar principalmente em casa, compondo trabalhos que eram principalmente "pinturas digitais", criadas no Photoshop. O artista interessou-se por peças escultóricas particularmente pequenas, usando materiais que encontrou na rua, como sapatilhas. Ele acredita que seu trabalho está sempre relacionado a algum jogo, até mesmo a peça mais obscura.
“
Nunca posso dizer que sou pintor, porque não estudei pintura. Nunca me interessei em estudar a técnica, e por isso, sinto-me livre para desconsiderar a técnica. Se os pintores me vêem a trabalhar, morrem de angústia.
”
— Matías Romano Alemán
VERA MATIAS
Double Masked Heads por Susan Rothenberg
Double Masked Heads por Susan Rothenberg
Double Masked Heads faz parte de uma vasta série de pinturas de cavalos em escala real por Susan Rotherberg, que popularizou a artista. Vera escolheu esta pintura porque a lembrava de seu próprio trabalho. Como Susan retrata cavalos, Vera tem repetido o elemento vaca na sua obra. No auge do minimalismo na década de 1970, Rothenberg tornou-se bem conhecido por pintar os contornos dos cavalos. Vera considera-o disruptivo, uma vez que reflete sobre o limbo entre o figurativo e o abstrato através do uso da repetição, da escala e do isolamento da figura, de forma plástica, pintando os cavalos sem cenário como se fossem ícones.
photo by José Guilherme Marques
Vera Matias começou de forma autodidata. Foi durante o mestrado que passou mais tempo a pintar. O seu processo criativo não se fixa no conceito ou ideia que quer transmitir, evolui a partir da combinação de elementos visuais. A sua forma de fazer arte, sem um significado significativo no início, pode adquiri-la no final, pelo título, por exemplo, que Vera acredita poder ajudar a pintura a dizer alguma coisa.
Não tenho uma ideia definida logo de início.
Não tenho um projeto ou algo para transmitir.
Tenho elementos gráficos e visuais
que me chamam à atenção por alguma razão
que eu combino e retrabalho
para obter o produto final.
“
Somos ensinados a corresponder a certos padrões, por isso quando vês uma figura, inconscientemente, queres desenhá-la exatamente do jeito que ela é. Então, chegar ao ponto de destruir totalmente esse conceito e preservar a figura é um processo muito complexo.
”
— Vera Matias
Nascida em Amarante, Portugal, Vera vive agora e trabalha no Porto. Licenciada em Design de Cenários pela Escola Superior de Música, Arte e Teatro e mestrado em Teoria da Arte e Crítica, os seus interesses principais são práticas artísticas e pesquisa à volta da tradição e da cena queer. Na pintura, ela assina com seu o alter ego Santa-Lúcia. Explora os seus interesses artísticos através de vários meios como a pintura, colagem, fotografia ou performance.
Nascido em Buenos Aires, Argentina em 1990. Estudou design e fotografia na faculdade UBA e começou as suas disciplinas artísticas muito novo. Matías é um pintor autodidata. Viajou pela Europa e Norte da África trabalhando através de murais, pinturas, desenhos e investigações culturais.
Pintor e designer, Puig nasceu em Viana do Castelo e vive agora no Porto. Através da sua prática, ele vem fomentando uma relação com a narrativa que é, em muitos aspetos, uma forma de refletir sobre sua própria realidade e a conexão que ela traz quando abres um diálogo. Puig tem um mestrado em pintura. Expõe desde 2014 e trabalha entre o design e a pintura.
Pintora e autora, Teresa cresceu na Ilha da Madeira e agora vive no Porto, Portugal. Ela gosta de contar histórias com a verdade neles através da pintura tradicional, escrita criativa e ilustração. Teresa concluiu a licenciatura em Artes Visuais - Pintura na Faculdade de Belas-Artes do Porto em 2019 e tem trabalhado como artista visual freelance e diretora de arte. Teresa criou o Varicela, um podcast (em português) sobre criatividade, focado em compartilhar a realidade por trás da criação e os altos e baixos de viver como artista.
This article was written by Nicole Gonçalves and Carolina Ribeiro,
featuring the episodes of Empire of Light directed by Bauti Godoy, with graphics by João Parra.
Proofreading and translation of the video and this article by Eva Magro.
First published on July and updated on August 2021.
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A arte tem sido uma forma de expressão e comunicação desde os primórdios da humanidade. Hoje em dia, as peças de arte que moldaram um certo período da história são as mesmas que influenciam os artistas de hoje nas suas mais diversas criações. Da pintura à fotografia, os nossos conteúdos centram-se nos processos tradicionais e digitais.
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